
Não acreditei muito quando recebi o livro... Lá vem uma história chata e monótona, com o amor carnal vencendo no final e o herói se consagrando após inúmeras batalhas...
Peguei o livro mesmo assim e, no momento em que li os agradecimentos, quão grande foi minha surpresa ao ler "Paulo Coelho"... Meus olhos devem ter brilhado: aquele texto se tornava interessante não pela citação, mas por ser estabelecido um vínculo entre o autor que me é tão caro e Carrasco.
A leitura mostrou um enredo que, claramente, comungava dos ideais que, por vezes, são esquecidos pelos literatos. Deparei-me com a seqüência de sempre, o herói, as batalhas, a despedida, a solidão, a luta de classes, a espiritualidade, a intertextualidade... mas estive frente também à mão sensível de um escultor que, com emoção e experiência, mostra-nos os caminhos tortuosos de um menino que rompe com tudo e todos para, em alguma parte, se confundir com o leitor.
Exercício de razão e de mitos que, muitas vezes renegados, são esquecidos pelo materialismo e pela tentativa (sempre frustrada) de não se machucar. Esse é um ponto que merece atenção: o combate direto entre clássico e moderno, entre eterno e efêmero.
Não é, entretanto, obra de quinze dias de experimentação, mas de um ou dois, uma vez que a intensidade é um nocaute em nossos preciosismos que delega reflexão e internalização posterior. Eis o alaranjado da chama da vida vencendo o prateado da contemporaneidade.
"Pãozinho quente. Barulho de chinelo. Vovó. Galinhas cacarejando e até o cheiro das penas molhadas. Muito, muito tempo depois, Felipe ainda se lembraria dos ruídos, dos aromas, das mil sensações anunciando o amanhecer. A cada vez, teria a mesma saudade, idêntico desejo de abraçar a avó, de ouvir a voz do pai, de tomar o leite morno e açucarado com queijo fresco feito em casa. Ah, que saudade daquele tempo repleto de abraços!" (p.11)
Um comentário:
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